Enquanto planejávamos nossa viagem para a Patagônia, me peguei imaginando várias vezes como seria passar meu aniversário no Fim do Mundo. Para aumentar a expectativa, esse também seria o nosso primeiro dia em Ushuaia. Depois de uma longa viagem de São Paulo, nós estávamos muito animados para o que estava por vir.

Spoiler: Nunca, nem em um milhão de anos, eu poderia imaginar o quão incrível seria.

Nós começamos o dia bem cedo. Marco, nosso guia para a Expedição Off-Road 4×4, nos buscou no hotel por volta de sete horas da manhã, em um jeep gigantesco. Só de olhar para o veículo, já era fato que iríamos conhecer as “condições extremas” que os guias de viagem para a Patagônia tanto falam em suas páginas.

Antes de seguir, preciso citar que o Marco foi um guia incrível durante todo o passeio. Nascido e criado em Ushuaia, ele sabe tudo e mais um pouco sobre a região. Ele nos contou sobre a geografia, o clima e a história da cidade em detalhes. Além disso, ele pacientemente respondeu todas as nossas perguntas ao longo do dia (somos um grupo curioso!), e foi muito atencioso em nos fornecer a melhor experiência possível.

Inclusive, você pode ler muito do que ele nos ensinou no primeiro post sobre Ushuaia, ou no Desire to Wander, meu segundo blog.

Paso Garibaldi

Nossa primeira parada foi no Paso Garibaldi, na Ruta Nacional 3. Esse lugar é um lindo mirante, onde você consegue ver os lagos Fagnano e Escondido de cima.

Não há muito a ser escrito, para ser sincera. Acho que as fotos falam por elas mesmas. O Paso Garibaldi é um lugar calmo e tranquilo para admirar a vista.

No caminho para a nossa segunda parada, nós vimos muitas castoreiras construídas pela fauna local.

Um fato interessante: Os castores da Patagônia são originalmente da América do Norte. Esses animais foram transportados para Ushuaia há muitos anos, em uma tentativa sem sucesso de fomentar a indústria de vestuário, para atender as condições extremas do inverno. Com o tempo, os castores começaram a se reproduzir exponencialmente, dado que não existem predadores naturais para esses animais na Patagônia.

Como era de se esperar, a situação ficou fora de controle. Existiam tantos castores pela região, que eles começaram a destruir florestas e devastar a flora local. Para tentar controlar o estrago, o governo começou a contratar locais para caçar os animais. Essa prática existe até hoje, e o problema está longe de ser controlado.

As tristes consequências da interferência humana no meio ambiente…

Lago Fagnano

Na nossa segunda parada, finalmente entendi porque esse passeio se chama “Off-Road 4×4”.

O acesso ao Lago Fagnano é feito por uma estrada de terra, cheia de altos e baixos. Para melhorar, choveu no dia anterior a nossa visita, então o caminho ainda estava completamente molhado e escorregadio.

A sensação era estar na montanha-russa Big Thunder Mountain, do Magic Kingdom. Pensando agora, foi até melhor e muito mais emocionante. Nota importante: Eu sou uma grande fã da Disney – Esse é um imenso elogio vindo de mim.

Como mencionei anteriormente, nós estávamos em um jeep 4×4 imenso, totalmente preparado para a situação.

O caminho foi tão difícil, que ao chegarmos ao Lago Fagnano, nós estávamos literalmente dentro da água. Eu estava no assento ao lado do motorista, e tomei um belo susto quando percebi. É claro que em um minuto estávamos de volta à beira do lago, com nenhum sinal de água dentro do veículo. A expedição é preparada para isso – E ainda arrisco dizer que essa é uma das grandes graças do passeio.

Quando finalmente descemos do jeep e eu olhei para o Lago Fagnano na minha frente, eu perdi todas as palavras.


O Lago Fagnano está a 100km de Ushuaia, ao Norte. Ele está na fronteira entre o Chile e Argentina, apesar da maior parte da sua extensão ficar no território argentino.

De acordo com o nosso guia, quando há pouco vento, o lago se torna em um grande espelho d’água – Algo que infelizmente não conseguimos ver no dia da nossa visita. Com essa situação, como as águas refletem perfeitamente a paisagem, os locais apelidaram o Lago Fagnano de “descanso do horizonte”.

Não tivemos o espelho d’água, mas a água estava clara e o sol brilhando quando chegamos. Quase tive vontade de nadar, até colocar a mão na água e lembrar que estava congelando fora da minha segunda pele.

Em Dezembro de 2010, dez anos antes de visitar a Patagônia, eu conheci um lugar muito parecido na Nova Zelândia. Eu estava em Kaikoura, uma pequena cidade da Ilha Sul. Não sei se meu aniversário teve qualquer relação com todo esse sentimentalismo nostálgico, mas lembro de olhar para o Lago Fagnano e ter a mesma sensação de quando visitei Kaikoura: Somos muito pequenos perto da magnitude da natureza.

Lago Escondido

De volta ao jeep para a nossa última parada do dia: o Lago Escondido, ao pé da montanha Garibaldi.

Após dirigir alguns minutos, nós chegamos a uma trilha bem fechada. O Lago Escondido é bem menor que o Fagnano em termos de extensão e é completamente cercado de florestas. Faz sentido o nome, não é? Para chegar no nosso destino, nós seguimos essa trilha por alguns minutos.

Era uma trilha bem tranquila. Sem altos e baixos, e mesmo com a chuva do dia anterior, não estava escorregadio. Para ser sincera, o chão estava “macio”, como se estivéssemos pisando em algodão.

Nosso guia explicou que esse efeito acontece pois a vegetação depositada sobre o solo demora centenas de anos para se decompor. O culpado? O clima da região.

No verão, é muito úmido. Enquanto no inverno, a floresta fica completamente congelada. Isso faz com que as folhas fiquem intactadas por bastante tempo, criando esse efeito “macio” no chão da floresta.

Poucos minutos de caminhada depois, lá estava o Lago Escondido, no meio da floresta. O sol ainda estava brilhando forte quando chegamos e para melhorar, só estávamos nós ali. A sensação era de uma paz imensa.

Perto da beira do lago, há uma pequena cabana de madeira. Como já era uma hora da tarde, nosso guia nos convidou a sentar e almoçar um tradicional churrasco argentino, preparado por ele mesmo.

Curioso como era uma hora da tarde e a primeira vez no dia que eu pensava em comida ou nas horas. Eu nem percebi o tempo passado ao longo do dia. Para alguém como eu que costuma passar o dia inteiro pensando em prazos e correndo de uma reunião para outra, foi um sentimento muito bom. A paisagem pode definitivamente te fazer esquecer qualquer uma dessas coisas.

As fotos não estão na melhor qualidade, mas a comida estava incrível.
Tem algo na carne argentina que eu não sei explicar.

Quando terminamos de almoçar e saímos da cabana, o céu estava começando a ficar nublado, mas ainda tínhamos alguns minutos antes de voltar para o hotel. A mudança do tempo é uma coisa bem séria para esses passeios (mesmo no verão). Por isso, o Marco ouvia a equipe de segurança da região por um rádio a cada quinze minutos/meia hora para acompanhar as orientações locais.

Após darmos uma volta e admirar a vista do Lago Escondido, ele nos perguntou se queríamos andar de barco. Obviamente, dissemos que sim!

Fomos sozinhas, e tínhamos o lago todo para nós. Essa foi provavelmente uma das coisas mais assustadoras e incríveis que fizemos nessa viagem – Mas ainda tenho algumas outras aventuras para compartilhar nos próximos posts.

Paramos quando começou a chover – Infelizmente, isso significava que era hora de terminar a Expedição. Juntamos nossas coisas rapidamente e pouco antes da chuva engrossar, terminamos a trilha de volta ao jeep.

Dirigimos em direção sul na Ruta 3, por um pouco mais de meia hora, até chegarmos de volta à Ushuaia.

Enquanto olhava pela janela, entendi porque todos os guias de viagem que li sobre a Patagônia mencionavam o quão instável o tempo é durante o verão. O céu estava escuro, o vento gritava do lado de fora do carro, e a neblina cobria praticamente todas as montanhas que passamos durante a ida. Foi difícil acreditar que há poucas horas, em frente ao Lago Fagnano, eu quase considerei colocar o pé na água com o sol brilhando.

Quando chegamos ao hotel, a chuva nos deu uma trégua, mas o céu ainda estava bem escuro. Depois de um banho quente, sentei em frente a janela do meu quarto, com a vista do centro de Ushuaia e o mar do fim do mundo. Vendo as fotos da nossa Expedição 4×4, tudo que eu conseguia pensar era “Não acredito que foi assim que passei meu aniversário de 25 anos!”

Marina

Expedição Off-Road 4×4 no mapa:


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